quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Sobrado da Vó Ester


O casarão dos Oliveiras perdeu o seu encanto, deixando-nos as lembranças.
Ele não existe mais! Não resistiu a força do tempo.

Sua construção vem do século passado. Anadia, campos dos arrozais de Inhauns, fica entre Serranias Verdejantes, à margem do rio São Miguel, a 14 léguas da sua foz. É uma das cidades mais antigas do nosso Estado, fazendo parte da nossa história com seu estilo colonial.

No sobrado imponente na rua da matriz as paredes impressionavam pela espessura e sua escadaria era de madeira, como também, o piso do primeiro andar, onde ficava um dos dormitórios.
Ali, tios e primos, juntos, brincavam com os medos de cada um no ranger das tábuas nas noites de chuva. Depois de muita zoeira, noites em claro, o time de futebol se reunia para acertar o esquema de jogo. Para dona Ester, todos eram netos. Quem não se lembra do café da manhã que era servido aos netos e amigos? E sempre com a preocupação para que se alimentassem bem. Como resistir as caminhadas pelos sítios de chã de Anadia? As frutas no sítio da Juju? As corridas no sítio do Zé Claudino?

...O ponto de partida era o sobrado de dona Ester...

Uma das minhas curiosidades de infância era observar o badalar do sino da matriz (diziam que o sino tinha mais de 200 anos), quando dos cortejos fúnebres que percorriam a ladeira principal, passando em frente ao sobrado, até o cemitério que fica por trás da igreja. Nas procissões dos fiéis da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Piedade, me assustava os cânticos das beatas Marianas e dos Marianos, vestidos numa bata vermelha:

- Avé, avé - Avé Maria

- Avé, avé - Avé Maria...

Do meu ponto de observação, da janela do sobrado, acompanhava desde a praça até a matriz, atento as reações das pessoas.
Que saudade da festa da padroeira! Na poesia 02 de fevereiro, Emanoel Fay, retrata nossa festa:

"Festa de nossa senhora da piedade
a rua cheinha de gente
e de barracas de palha..
um serviço de auto falantes
publicava telegramas apaixonados:
- Alô! Menina do vestido de bolinha azul,
Você é o broto que mais brilha nessa festa.
Sem você a mesma não presta
Assina: você já sabe.."

As procissões continuam, mas está faltando o sobrado da Ester.


Paulo Madeiro, em uma homenagem a sua mãe, Irma de Oliveira,
e a sua , Ester de Oliveira, que se foi em um dezembro de festa
da padroeira.